Livros e Módulos Didáticos de André Gattaz



História da Antiguidadade II

História da Antiguidade II


Salvador • UNEB/EAD • 2010
55 páginas • 21x29 cm

Livro-texto do Curso de Licenciatura em História da UNEB-EAD, pertentente ao sistema Universidade Aberta do Brasil. Este segundo módulo é dedicado à história de Grécia e Roma antigas.
 
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História da Antiguidade I

História da Antiguidade I

Salvador • UNEB/EAD • 2009
52 páginas • 21x29 cm

Livro-texto do Curso de Licenciatura em História da UNEB-EAD, pertentente ao sistema Universidade Aberta do Brasil. Neste primeiro volume de História da Antiguidade, o autor dedica dois capítulos à Pré-História, relatando desde as origens do homem até o rápido desenvolvimento do Neolítico. Outros dois capítulos são dedicados ao Egito Antigo e às civilizações mesopotâmicas (Suméria, Babilônia, Acade, Assíria).

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A Guerra da Palestina

A Guerra da Palestina: da criação do Estado de Israel à Nova Intifada
São Paulo • Usina do Livro • 2002 (2ª ed. 2003)
ISBN 85-88964-02-3
240 páginas • 16x23 cm

Este livro trata de uma guerra que já se estende por mais de sessenta anos, e tem suas origens no final do século XIX: a Guerra da Palestina – denominação mais adequada à chamada guerra árabe-israelense, que nada mais é do que o conflito entre os árabes palestinos e os imigrantes judeus sionistas, e posteriormente o Estado de Israel, pela posse das terras da Palestina, à qual estão associadas as guerras expansionistas de Israel contra os países árabes vizinhos. Fartamente apoiado em documentação da Organização das Nações Unidas.

COMO COMPRAR

LEIA UM TRECHO DA INTRODUÇÃO

Do Líbano ao Brasil

Do Líbano ao Brasil: história oral de imigrantes
Salvador • Pontocom • 2013 • 2ª ed.
(1ª edição: São Paulo, 2005)
ISBN 85-66048-00-1
160 páginas • 14x21 cm

O livro Do Líbano ao Brasil: história oral de imigrantes traz à tona a história da imigração libanesa para o Brasil, desde os seus primórdios, na década de 1880, até à última fase da imigração, durante e após os turbulentos anos da Guerra do Líbano (1975-1990).
Baseando seu trabalho em entrevistas de história de vida com os imigrantes que participaram desse processo histórico, o autor relaciona suas experiências individuais aos aspectos gerais da sociedade e da política libanesas, compondo um panorama dos 120 anos da imigração desta nacionalidade.

O livro foi publicado em nova edição pela Editora Pontocom e é distribuído gratuitamente em formatos EPUB, MOBI e PDF.
O autor busca uma editora disposta a publicá-lo em formato impresso.

Braços da Resistência

Braços da Resistência: História Oral da Imigração Espanhola
São Paulo • Ed. Xamã • 1996
ISBN 85-85833-16-5
276 páginas • 14x21 cm (Esgotado)

Em Braços da Resistência, André Gattaz narra a atividade política do grupo de imigrantes espanhóis antifranquistas em São Paulo, nas décadas de 1940 a 1970. Partindo da Guerra Civil Espanhola, o autor relata as condições sócio-econômicas e políticas que motivaram centenas de milhares de espanhóis a deixar sua terra natal após a guerra civil ou entre os anos de 1945 e 1965. Narra em seguida a atividade antifranquista desenvolvida em solo paulistano, revelando a política clandestina do Partido Comunista Espanhol no exílio, que no Brasil atuava através de células infiltradas no Centro Democrático Espanhol.

"Visando responder por que a historiografia brasileira, paradoxalmente, não se debruça com o cuidado devido sobre a participação dos imigrantes na sociedade nacional, André Gattaz nos apresenta uma história nova tecida no cruzamento de histórias de vida com o tema da imigração. Não faltou o debate político que, no caso, mescla a questão do franquismo em um novo cenário, com o papel do indivíduo como agente histórico. Fugindo da simplificação Gattaz faz uma combinação que, afinal, revela que o trabalho do oralista remete mais ao entendimento da mensagem que propriamente às imperfeições da fala. Neste debate complexo não faltam argumentos e o mério deste texto é, além de asumir uma posição clara, mostrar os mecanismos de transformação. [...] este texto-sonho marca um limite que sugere o caminho de uma nova geração de oralistas brasileiros." José Carlos Sebe Bom Meihy, no Prefácio

COMO COMPRAR
O livro Braços da Resistência está esgotado na editora, mas é possível encontrar usados na Estante Virtual.

LEIA UM TRECHO DO LIVRO

O Bug do Milênio

O Bug do Milênio
São Paulo • Gandalf Editora • 1999
ISBN 85-901117-1-7
64 páginas • 13x19 cm
No livro "O Bug do Milênio", lançado em novembro de 1999, o jornalista e historiador André Gattaz apresenta pela primeira vez ao público sua faceta ficcionista, em dois contos que trazem um pouco de fantasia à dura realidade de nossos dias.
O conto "O Bug do Milênio" lida com a demasiada dependência que a nossa sociedade vem criando dos sistemas eletro-eletrônicos, aí incluindo a informática. Esta impensada dependência dos sistemas de computadores gera uma situação em que se tornam possíveis, senão inevitáveis, quedas de sistemas que podem levar o caos às grandes cidades.
Em "As Bibliotecárias de Alexandrina", o autor apresenta uma insólita situação numa pequena cidade do interior nordestino: uma biblioteca municipal que recebe livros do mundo inteiro através de uma corrente proposta por um prefeito visionário. O desenrolar e o desfecho da trama surpreendem ao confrontar o idealismo humanista à nossa realidade sociopolítica, onde as raras bibliotecas públicas não chegam a desempenhar papel significativo na formação cultural da juventude.

A Guerra da Palestina [Trecho da Introdução]

"Este livro trata de uma guerra que já se estende por mais de sessenta anos, e tem suas origens no final do século XIX: a Guerra da Palestina – denominação mais adequada à chamada guerra árabe-israelense, que nada mais é do que o conflito entre os árabes palestinos e os imigrantes judeus sionistas, e posteriormente o Estado de Israel, pela posse das terras da Palestina, à qual estão associadas as guerras expansionistas de Israel contra os países árabes vizinhos.
Esta guerra iniciou-se de fato na segunda metade dos anos 1930, quando começaram a ocorrer os primeiros conflitos graves entre os imigrantes sionistas e a população árabe nativa. Desde então, o conflito mantém-se sem solução devido à posição rejeicionista do Estado de Israel e de boa parte de seus interlocutores palestinos. A isto devemos acrescentar a posição também rejeicionista do governo norte-americano (especialmente após a guerra dos Seis Dias, em 1967), apoiando Israel do ponto de vista moral, financeiro e militar, e inviabilizando ações concretas por parte das Nações Unidas para coibir os excessos de uma guerra que já custou milhares de vidas.
Nesses anos, em meio ao constante atrito entre palestinos e israelenses, pelo menos nove grandes explosões de violência ocorreram, sendo que cinco delas envolveram diretamente outros países árabes no conflito contra Israel. Cada uma dessas etapas de violência foi classificada pela historiografia como uma guerra distinta, porém neste livro são tratadas como diversas fases da Guerra da Palestina. Foram elas:
• guerra civil de 1936-39, opondo os imigrantes sionistas aos árabes palestinos;
• guerra civil de 1947-48, envolvendo imigrantes sionistas, árabes palestinos e tropas de ocupação britânicas;
• guerra de 1948-49 (primeira guerra árabe-israelense), em que Egito, Jordânia, Líbano, Síria e Iraque foram derrotados por Israel;
• guerra de Suez (outubro de 1956), envolvendo Israel, Egito, França e Grã-Bretanha;
• guerra dos Seis Dias (junho de 1967), em que Israel ocupou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental (Jordânia), Faixa de Gaza (Egito) e colinas de Golã (Síria);
• guerra do Yom Kippur ou do Ramadã (outubro de 1973), envolvendo Israel, Egito e Síria;
• invasão israelense do Líbano (1982);
• Intifada (1987-91), guerra de resistência da população palestina contra a ocupação israelense;
• Nova Intifada, ou Intifada de Al-Aqsa (setembro de 2000 ao presente), guerra de resistência da população palestina contra a ocupação israelense." (p. 15-16)

A Guerra da Palestina [Como comprar]

O livro A Guerra da Palestina encontra-se esgotado na editora, porém ainda é possível encontrá-lo novo ou usado em algumas livrarias e sebos da Estante Virtual. Se quiser um livro autografado pelo autor, envie uma mensagem para andregattaz(ARROBA)gmail.com solicitando detalhes.

Do Líbano ao Brasil [Introdução]

“De árabe e turco muitos o tratavam, é bem verdade. Mas o faziam exatamente seus melhores amigos e o faziam numa expressão de carinho, de intimidade. De turco ele não gostava que o chamassem, repelia irritado o apodo, por vezes chegava a se aborrecer:
– Turco é a mãe!
– Mas, Nacib...
– Tudo o que quiser, menos turco. Brasileiro – batia com a mão enorme no peito cabeludo – filho de sírios, graças a Deus.
– Árabe, turco, sírio, é tudo a mesma coisa.
– A mesma coisa, um corno! Isso é ignorância sua! É não conhecer história e geografia. Os turcos são uns bandidos, a raça mais desgraçada que existe. Não pode haver insulto pior para um sírio que ser chamado de turco.
– Ora, Nacib, não se zangue. Não foi para lhe ofender. É que essas coisas das estranjas pra gente é tudo igual...”
[...]
“Árabes pobres, mascates das estradas, exibiam suas malas abertas, berliques e berloques, cortes baratos de chita, colares falsos e vistosos, anéis brilhantes de vidro, perfumes com nomes estrangeiros, fabricados em São Paulo. Mulatas e negras, empregadas nas casas ricas, amontoavam-se ante as malas abertas:
– Compra, freguesa, compra. É baratinho... – a pronuncia cômica, a voz sedutora.
Longas negociações. Os colares sobre os peitos negros, as pulseiras nos braços mulatos, uma tentação! O vidro dos anéis faiscava ao sol que nem diamante.
– Tudo verdadeiro, do melhor.”
(Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela)

* * *

“Os turcos nasceram para vender
bugigangas coloridas em canastras
ambulantes.
Têm bigodes pontudos, caras
de couro curtido,
braços tatuados de estrelas.
Se abrem a canastra, quem resiste
ao impulso de compra?
É barato! Barato! Compra logo!
Paga depois! Mas compra!
A cachaça, a geléia, o trescalante
fumo de rolo: para cada um
o seu prazer. Os turcos jogam cartas
com alarido. A língua cifrada
cria um mundo-problema, em nosso mundo
como um punhal cravado.
Entendê-los, quem pode? [...]
Os turcos,
meu professor corrige: Os turcos
não são turcos. São sírios oprimidos
pelos turcos cruéis. Mas Jorge Turco
aí está respondendo pelo nome, e turcos todos são, nesse retrato
tirado para sempre... Ou são mineiros
de tanto conviver, vender, trocar e ser
em Minas: a balança
no balcão, e na canastra aberta
o espelho, o perfume, o bracelete, a seda,
a visão de Paris por uns poucos mil-réis?”
Carlos Drummond de Andrade, Os Turcos)

Introdução

A capacidade de dizer muito em poucas palavras é própria dos grandes autores. Nas citações com que abro este texto, vêm-se Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade colocarem em prosa e em verso os principais elementos que caracterizam a imagem que os cidadãos brasileiros têm dos imigrantes árabes – imagem esta que não distingue sírios de libaneses e associa-os erroneamente à origem turca.
Os elementos apresentados por Amado e Drummond – o pendor para o comércio que fez dos árabes mascates e lojistas, o despojamento, a esperteza (chegando por vezes à trapaça), a pronúncia estranha e mesmo algumas características físicas como a corpulência e o “bigode pontudo” –, mais do que formulações fantasiosas dos autores, são aspectos centrais do estereótipo do imigrante árabe formulado pela produção cultural brasileira e aceito pelo senso comum.
Vemos, assim, especialmente nas produções literária, cinematográfica e televisiva nacional, que têm a característica de trabalhar com base em estereótipos para representar grupos étnicos ou sociais, repetirem-se chavões sobre os imigrantes de origem árabe e suas características, como em alguns trechos das citações de Amado e Drummond, que perspicaz e ironicamente utilizaram-se dos lugares-comuns:
“– Árabe, turco, sírio, é tudo a mesma coisa.”
“Árabes pobres, mascates das estradas, exibiam suas malas abertas, berliques e berloques, cortes baratos de chita, colares falsos e vistosos, anéis brilhantes de vidro, perfumes com nomes estrangeiros, fabricados em São Paulo.”
“– Compra, freguesa, compra. É baratinho... – a pronuncia cômica, a voz sedutora.”
“– Tudo verdadeiro, do melhor.”[i]
“Os turcos nasceram para vender / bugigangas coloridas em canastras / ambulantes.”
“Têm bigodes pontudos, caras / de couro curtido”
“É barato! Barato! Compra logo! / Paga depois! Mas compra!”
“A língua cifrada / cria um mundo-problema, em nosso mundo / como um punhal cravado.”[ii]
Neto de imigrantes libaneses – embora meu avô Semi se considerasse sírio – e desde cedo interessado na cultura e na história árabes, até alguns anos atrás eu me sentia um pouco como o personagem Nacib ao ser chamado de turco – embora eu não tenha nada contra os turcos, ao contrário de meu avô, que foi um dos muitos jovens obrigados a fugir da Síria e do Líbano para escapar à obrigatoriedade de servir o exército do sultão otomano que ocupava as terras do Levante.
O que mais me incomodava, entretanto, não era ser chamado de turco, mas perceber o desconhecimento geral existente quanto à história do Oriente Próximo e à cultura árabe, do qual é resultante a grande confusão que se faz quando se trata do imigrante sírio e libanês – envolvendo o uso indiscriminado dos termos árabe, turco, sírio, libanês, judeu, muçulmano, maometano e muitos outros. A tese de doutoramento que originou este livro[iii] é, de certa forma, o resultado desse incômodo diante do amplo desconhecimento da história árabe em geral e libanesa em particular.
Durante a pesquisa, que se estendeu dos anos 1996 a 2000, procurei conhecer as diversas versões apresentadas sobre a história e a atualidade libanesas – especialmente no que diz respeito aos aspectos econômicos, sociais e políticos que possam ter influenciado o extenso movimento migratório de libaneses para o Brasil ao longo de 120 anos. Estudei a obra de pesquisadores provenientes de várias origens nacionais e credos políticos e religiosos, e preocupei-me em produzir documentação oral abrangendo os diversos grupos religiosos, regionais e etários representativos dos libaneses no Brasil, além de contar com minha própria experiência como neto de libaneses, o que faz de toda minha vida um verdadeiro laboratório de “experiência participante”.
Foram excluídos, da tese de doutoramento original, os capítulos que explicitam a metodologia adotada no trabalho e detalham o trabalho de campo – tal metodologia, a história oral, é tratada com mais detalhe em outros textos publicados por mim.[iv] Também se excluíram as textualizações das histórias de vida, que poderão talvez um dia vir a tornar-se uma publicação autônoma.
Em relação à chamada questão palestina, que se refletiu de forma inequívoca na história do Líbano contemporâneo, excluí grande parte do material que constava na tese, mantendo apenas as informações essenciais. Este assunto foi desenvolvido com bastante detalhe na obra A Guerra da Palestina: da criação do Estado de Israel à Nova Intifada,[v] que publiquei em novembro de 2002.
Por fim, excluíram-se também as dezenas de referências bibliográficas e notas de rodapé da tese original, mantendo-se apenas, e de maneira simplificada, as referências dos trechos ou autores citados diretamente. Ao final da obra listam-se não apenas os livros referidos na obra mas também a bibliografia complementar consultada para a redação da tese. O restante do trabalho sofreu apenas pequenas correções, embora em diversos momentos tenha me sentido tentado a reescrever completamente o trabalho, redigido há exatos quatro anos.
* * *
Este livro divide-se em duas partes. A primeira é dedicada ao contexto histórico do Líbano e à análise dos motivos que levaram os libaneses a emigrar durante os últimos 120 anos de sua história. Esta parte da obra é dividida em dois capítulos, referentes aos anos de 1880 a 1940 (capítulo 1) e de 1941 a 2000 (capítulo 2).
A segunda parte abrange diversos aspectos da vida do imigrante libanês no Brasil, compondo um quadro das principais diferenças entre os diversos grupos que aqui se estabeleceram, e foi elaborada com base nas entrevistas realizadas e em minha experiência de campo entre a comunidade árabe e libanesa de São Paulo, São Bernardo do Campo, Foz do Iguaçu e outras cidades do país. Inicia-se com a análise dos motivos que atraíram os imigrantes libaneses para o Brasil em detrimento de outros países de imigração, como os Estados Unidos e a Argentina (capítulo 3). Em seguida, analisa-se a recriação da identidade entre esses imigrantes e sua inserção na sociedade nacional através do trabalho, criticando a noção corrente de um caminho fácil de mascates a doutores (capítulo 4). Os capítulos seguintes são dedicados à análise das formas de manutenção das identidades culturais e religiosas entre os imigrantes, considerando-se o papel da família e das entidades sócio-culturais libanesas (capítulo 5) e das instituições religiosas da colônia (capítulo 6), sendo o item seguinte especialmente dedicado à vida muçulmana no Brasil (capítulo 7). Por fim, discute-se como os imigrantes libaneses posicionam-se frente aos fatos geopolíticos do Líbano e do Oriente Próximo, notando-se novamente as dissensões no seio da colônia (capítulo 8). Nos apontamentos finais, sumarizo as principais características dos grupos estudados, procurando responder às principais questões e hipóteses de trabalho que foram colocadas ao longo da pesquisa.
Espero que este livro responda a muitas perguntas que são cotidianamente feitas sobre os árabes e os libaneses, e que possa colaborar, ainda que modestamente, para o esclarecimento da verdadeira cultura árabe, ultimamente desvirtuada e vilipendiada pela mídia como poucas culturas o foram.

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[i] – Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela, p. 33, 55.
[ii] – Carlos Drummond de Andrade, Poesia e Prosa, p. 640-6.
[iii] – André Gattaz, História oral da imigração libanesa para o Brasil: 1880-2000.
[iv] – André Gattaz: Braços da Resistência: uma história oral da imigração espanhola (1995); Lapidando a fala bruta: a textualização em história oral (1996); Meio século de história oral (1998) e La búsqueda de identidad en las historias de vida (1999)
[v] – André Gattaz, A Guerra da Palestina: da criação do Estado de Israel à Nova Intifada (2002).

Braços da Resistência [Trecho do Livro]

"Em janeiro de 1930, pressentindo que sua ditadura já não se sustentava, o general Primo de Rivera retirou-se, vindo a morrer em Paris pouco depois. O governo do general Berenguer, designado pelo rei para formar um novo ministério, seria somente uma etapa. Os antigos partidos ressucitavam; os anti-monárquicos assinaram o pacto de San Sebastian visando a implantação da República. No meses finais do ano a agitação social era intensa. Em dezembro a guarnição de Jaca, reforçada por alguns jovens entusiastas, proclamou a República e marchou sobre Huesca, alí sendo reprimida. Seus chefes, os capitães Firmín Galán e García Hernandez foram fuzilados: "la República tenía sus mártires".
Em abril de 1931, finalmente, deu-se a rendição. Após as eleições municipais que apontaram a vitória dos partidos anti-monárquicos em todas as cidades grandes da Espanha, o Rei Alfonso XIII decidiu fugir, sendo proclamada a Segunda República espanhola num clima de euforia semelhante ao vivido nas Revoluções. Pelo menos, é o que atesta a bibliografia existente sobre o tema, assim como o único relato que temos em nossas entrevistas de alguém que se lembre dessa época.
Julián Ángel García nasceu em Cuenca em 1920 e aos cinco anos mudou-se para Madri junto com a família. Estava, portanto, no centro dos acontecimentos dramáticos de 1931. Seu pai era químico preparador de vernizes numa grande indústria e pertencia ao sindicato socialista. Seu relato sobre aqueles momentos é bem preciso:
Bom, no dia 14 de abril, o Rei vendo o resultado das eleições, corretamente, assessorado talvez por políticos muito políticos, foi-se para o exílio na França, com a família real toda e acompanhado por diversas personalidades de sangue azul. (...)
Com a fuga do rei, implantou-se a Segunda República e o primeiro presidente que escolheram foi Niceto Alcalá Zamora. (...) Vou dizer uma coisa: a princípio tudo continuou na mesma, mas então os partidos políticos começaram a crescer: o Partido Socialista Obrero Espanhol, fundado por Pablo Iglesias; o Partido Comunista Espanhol, cujo presidente na ocasião era José "Pepe" Dias, e outros partidos de centro e de esquerda foram proliferando. (...)
O clima de tensão que se instaurou no país junto com a proclamação da Segunda República deixava claro que algo grave estava para acontecer: a possibilidade de uma reforma agrária radical assustava os caciques e a Igreja, que além disso via-se ameaçada de ser separada do Estado; os industriais temiam a revolução proletária, que estava latente entre os trabalhadores das centrais sindicais socialista (UGT) e anarquista (CNT) das grandes cidades, enquanto os militares consideravam-se ameaçados pela diminuição do soldo e de mordomias. A Catalunha conseguiu uma ampla autonomia e outras províncias ameaçavam trilhar o mesmo caminho. O povo queria pan, tierra y trabajo, além de ver-se livre daquela camarilla que espoliava o país havia tantos séculos."