Braços da Resistência [Trecho do Livro]

"Em janeiro de 1930, pressentindo que sua ditadura já não se sustentava, o general Primo de Rivera retirou-se, vindo a morrer em Paris pouco depois. O governo do general Berenguer, designado pelo rei para formar um novo ministério, seria somente uma etapa. Os antigos partidos ressucitavam; os anti-monárquicos assinaram o pacto de San Sebastian visando a implantação da República. No meses finais do ano a agitação social era intensa. Em dezembro a guarnição de Jaca, reforçada por alguns jovens entusiastas, proclamou a República e marchou sobre Huesca, alí sendo reprimida. Seus chefes, os capitães Firmín Galán e García Hernandez foram fuzilados: "la República tenía sus mártires".
Em abril de 1931, finalmente, deu-se a rendição. Após as eleições municipais que apontaram a vitória dos partidos anti-monárquicos em todas as cidades grandes da Espanha, o Rei Alfonso XIII decidiu fugir, sendo proclamada a Segunda República espanhola num clima de euforia semelhante ao vivido nas Revoluções. Pelo menos, é o que atesta a bibliografia existente sobre o tema, assim como o único relato que temos em nossas entrevistas de alguém que se lembre dessa época.
Julián Ángel García nasceu em Cuenca em 1920 e aos cinco anos mudou-se para Madri junto com a família. Estava, portanto, no centro dos acontecimentos dramáticos de 1931. Seu pai era químico preparador de vernizes numa grande indústria e pertencia ao sindicato socialista. Seu relato sobre aqueles momentos é bem preciso:
Bom, no dia 14 de abril, o Rei vendo o resultado das eleições, corretamente, assessorado talvez por políticos muito políticos, foi-se para o exílio na França, com a família real toda e acompanhado por diversas personalidades de sangue azul. (...)
Com a fuga do rei, implantou-se a Segunda República e o primeiro presidente que escolheram foi Niceto Alcalá Zamora. (...) Vou dizer uma coisa: a princípio tudo continuou na mesma, mas então os partidos políticos começaram a crescer: o Partido Socialista Obrero Espanhol, fundado por Pablo Iglesias; o Partido Comunista Espanhol, cujo presidente na ocasião era José "Pepe" Dias, e outros partidos de centro e de esquerda foram proliferando. (...)
O clima de tensão que se instaurou no país junto com a proclamação da Segunda República deixava claro que algo grave estava para acontecer: a possibilidade de uma reforma agrária radical assustava os caciques e a Igreja, que além disso via-se ameaçada de ser separada do Estado; os industriais temiam a revolução proletária, que estava latente entre os trabalhadores das centrais sindicais socialista (UGT) e anarquista (CNT) das grandes cidades, enquanto os militares consideravam-se ameaçados pela diminuição do soldo e de mordomias. A Catalunha conseguiu uma ampla autonomia e outras províncias ameaçavam trilhar o mesmo caminho. O povo queria pan, tierra y trabajo, além de ver-se livre daquela camarilla que espoliava o país havia tantos séculos."

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